O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, no próximo domingo (21), já está batendo à porta. /com isso, alguns estudantes que fazem revisões finais podem estar tendo dificuldades para lidar com o nervosismo diante da prova. Muitos procuram descansar, outros ainda folheiam algumas anotações, mas uma coisa que sempre pode ajudar é ouvir palavras de apoio de amigos e familiares, como forma de superar a ansiedade. No entanto, nem sempre é fácil saber como o outro vai reagir diante do que é dito, especialmente em um momento tão delicado como esse. 

A psicóloga Ivana Nascimento explica que as palavras podem ter efeitos diversos nas pessoas, e é preciso ter cuidado com o que é dito. “Nossas palavras são uma das formas ou ferramentas de comunicação com as pessoas ao nosso redor e através delas podemos comunicar acolhimento, amor, mas também indiferença, descrédito. O poder de uma palavra é imensurável. Ela pode motivar, assim como pode derrubar alguém”, comenta.

“No caso do estudante, principalmente no período pré Enem, eles estão mais suscetíveis, e a necessidade de validação está muito presente. O que faz com que esse estresse e suscetibilidade afetem também a forma como eles recebem e interpretam as palavras ditas pelos outros, tudo está muito à flor da pele.”

A importância do que não dizer

Para a estudante Yngrid Saraiva Costa, de 17 anos, o Enem é um passo importante em sua vida. “É uma porta de entrada para ingressar em uma faculdade, o começo de uma meta”, declara.

Yngrid, que busca cursar nutrição ou direito, relata algumas coisas que ela já ouviu e que realmente incomodam. “Redação é bastante difícil e a mais importante” ou que “isso não tem tanta importância”, são alguns exemplos. 

Segundo Ivana, cada pessoa tem sua própria forma de receber as informações, tendo em vista que cada indivíduo tem seu repertório pessoal e pode lidar com certas situações de maneiras distintas. Ela orienta que é importante entender a realidade do estudante para não invalidar o esforço feito por ele. “No geral, acredito que algumas frases podem ser evitadas. Como a clássica “mas você só estuda'", explica.

"Entendo que muitos pais não tiveram a oportunidade de estudar, já que isso para alguns é um privilégio, por isso não entendem como pode ser desgastante 'apenas estudar', mas é necessário validar o que está sendo dito pelo outro, se alguém relata cansaço, não nos cabe desacreditar. Falando em desacreditar, frases como 'você não tem motivo para tanto nervosismo/estresse' devem ser evitadas também, já que elas têm um peso de desacreditar as emoções do estudante”, completa Ivana.

Palavra de apoio podem ajudar

A psicóloga dá algumas dicas do que pode ser considerado como algo motivador para o estudante, além de outras demonstrações de cuidado por parte de amigos e familiares. “Oferecer apoio incondicional. Fazer com que eles saibam que vocês sentem orgulho de todo o tempo que eles depositaram neste sonho, fazer com que eles saibam que independente do resultado eles encontrarão acolhimento em vocês e força para continuar por mais um ano, se necessário”, indica a profissional.

Ela continua: “Também acredito ser fundamental que os amigos e familiares sejam aqueles que ajudam os estudantes a relaxar nesse processo, incentivar um tempo de descanso, a prática de uma atividade salutar, uma boa noite de sono.”

Sendo a primeira vez que ela realiza a prova, Yngrid gostaria de ouvir de amigos e familiares que “vai dar tudo certo”, pois é isso que importa para ela.

A importância do autocuidado

Ivana Nascimento ainda comenta que a motivação e o apoio também devem vir de dentro de cada estudante, e cita alguns pontos a serem lembrados. “A primeira coisa que me vem é trabalhar a autoestima ao longo desse processo. Entender que você está dando o seu melhor e que isso é suficiente. Entender que é o seu processo e ele não é linear, mas que só você pode tomar as rédeas e decidir o que fazer a seguir. Não posso dizer que existe algo que vá nos fazer viver alheios às palavras dos que estão ao nosso redor, mas se nos conhecermos e sabermos que estamos ali fazendo o que é possível, já é boa parte do caminho”, ela reforça.

E mesmo que não seja possível diminuir o incômodo frente ao que é trazido pelo outro, ela orienta que é fundamental entender o que funciona para lidar com o estresse e ansiedade. “Por exemplo: praticar alguma atividade física, rotina boa de sono, desconectar por um tempo, tomar um banho longo, ouvir música", finaliza.